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Ansiedade e Contemplação

Texto por: Henrique Santos | Fotografia: Gary Barnes

A ansiedade tem a capacidade de nos capturar do presente.


O brilhante psiquiatra Victor Frankl diz o seguinte sobre ansiedade: “Com efeito, o ser humano vai vivendo provisoriamente, sem perceber o que perde, inconsciente de que, com isso, se priva de tudo”.


As possibilidades de acontecimentos desagradáveis ocupam nossos pensamentos a ponto de que o nosso presente é impactado com coisas que nem aconteceram ainda. A ansiedade é apreensão a um futuro que reserva uma série de possibilidades indesejadas.

Os neurologistas Joseph E LeDoux e Daniel S Pine, demonstraram que os sentimentos de medo e ansiedade não são meramente reações involuntárias diante das ameaças que a vida apresenta, mas são processadas em partes do cérebro que trabalham com a memória e raciocínio – regiões do córtex – , o que seria a maior diferença entre os seres humanos e demais animais: a capacidade de elaborar medos e apreensões de modo consciente, com significado. Portanto, existem razões reflexivas por trás do medo e ansiedade, até nos casos mais intensos.

O que a sabedoria bíblica nos ensina sobre isso? Para responder, creio que podemos focar no caminho proposto por Jesus, relatado em Mateus 6:25-34, num corpo de texto (o célebre sermão do monte) que é um dos textos mais cheios de sabedoria do novo testamento.


Jesus propõe que, para que nós não andemos preocupados, completamente apreensivos por aquilo que o futuro reserva, observemos a realidade que nos cerca, mas mais especialmente como a mão de Deus trabalha para manter a sua criação.


A ansiedade, para Jesus, se combate com contemplação. Mas não basta contemplar, precisamos contemplar a partir dos princípios certos. Não se trata somente de ver o mundo, mas como vemos o mundo.

Alguns teóricos chamam isso de “cosmovisão” ou outros de “imaginário social”, mas de qualquer maneira a questão é que não basta ver, temos que interpretar a realidade.

Consideremos o seguinte: se para nós o mundo é resultado do acaso, que não existe nenhum significado intrínseco na realidade e que, em virtude disso, o mundo fosse apenas uma folha em branco, e a nossa responsabilidade é dar significado a ele, tendo como referência somente nossa interioridade, como faremos isso?



Primeiro, não faremos, pois é um empreendimento impossível. Por mais que não consigamos olhar para mundo sem projetar nossos pressupostos, aliás, é isso que defendo no texto, também não tem como não considerar que existem verdades na realidade que existem independente de nós.


Segundo, é provável que essa responsabilidade de projetar significado no mundo acabe trazendo mais ansiedade e não o contrário, pois estaremos fazendo algo que não temos capacidade de fazer: ressignificar um universo cujo significado Deus já o deu.


Qual é, portanto, a hermenêutica de Jesus sobre o mundo? Ele diz que é Deus quem dá alimento para os pássaros, é Ele quem veste os lírios do campo. Ver nestes movimentos a mão de Deus, e não só um processo natural, é o que vai nos ajudar com nossas preocupações.



Um olhar sobre o mundo mediado por Jesus, faz com que capturemos a graça de Deus fluindo em cada detalhe da criação, faz com que entendamos que o Deus do reino ao qual Jesus anuncia não é como os ídolos do gentios, mas é aquele que sustenta o tempo e o espaço.


Portanto, fazer da busca do seu reino o motivo fundamental das nossas vidas, também implica em lembrar do cuidado de Deus sobre nós a cada momento que olhamos para as aves e para os lírios, implica em sermos abraçados pela beleza que é a providência dele se manifestando no universo.


Quando nosso olhar é remodelado pelas palavras de Jesus, contemplar também é descansar, a ansiedade vai embora, e o que resta é a esperança.


 

Henrique Santos é obreiro em tempo integral no Ministério Anunciando a Cristo e teólogo. Casado com Pâmela, serve no Ministério Anunciando a Cristo em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul.

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