Texto por: Juliano Marold | Fotografia: Karolina Grabowska
Desde o início da era cristã, a igreja tem enfrentado, dentro de suas próprias fileiras, doutrinas e filosofias anticristãs. A nossa geração também as enfrenta.
No final do século XIX e início do século XX, por influência do Iluminismo, do Racionalismo e dos avanços que ocorreram no campo da ciência, surgiu o chamado "liberalismo teológico". Em essência, seus adeptos - muitos deles membros de denominações históricas dos Estados Unidos, procuraram adequar a fé cristã aos ideais racionalistas. Como consequência, os elementos sobrenaturais e milagrosos das Escrituras passaram a ser interpretados como mitos ou invenções do povo de Israel e da Igreja.
O problema é que com isso, dogmas centrais da fé cristã foram atacados: Cristo não teria nascido de uma virgem, Cristo não teria realizado milagres, Cristo não teria ressuscitado – pois tais fatos não podem ser explicados pela razão humana, e, então, Cristo não poderia ser Deus. A própria morte expiatória de Cristo foi vilipendiada, uma vez que, se Ele não era Deus, não poderia ter morrido pelos pecados de ninguém.
Para negar esses elementos sobrenaturais, os teólogos liberais precisaram negar, primeiramente, que a Bíblia é totalmente inspirada por Deus, que ela não contém erros e que ela não pode conter erros (doutrinas da inspiração, da inerrância e infalibilidade, respectivamente).
Foi assim que, diante disso, diversos irmãos, pastores e teólogos conservadores da época, sentiram-se impelidos a atender à exortação bíblica de batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Judas 1:3), opondo-se ao liberalismo que avançava cada vez mais. Eles passaram então a defender os pontos fundamentais da fé cristã, e o fizeram, principalmente, por meio da obra “Os Fundamentos”, dividida em 12 volumes, publicados entre os anos de 1910 e 1915. Diversos teólogos renomados da época foram autores, como G. Campbell Morgan, Benjamin Warfield, John Murray, e outros.
É digno de nota que dois ricos homens do ramo do petróleo financiaram a publicação dos 12 volumes, o que tornou possível a distribuição gratuita de cerca de 3 milhões de cópias, para cristãos em exercício de ministério no mundo todo!
Além disso, os teólogos conservadores elaboraram uma lista com cinco pontos fundamentais do cristianismo:
Infalibilidade e Inerrância da Bíblia;
Divindade de Jesus Cristo;
Nascimento virginal de Jesus;
Morte expiatória de Jesus na cruz;
Ressurreição corpórea de Jesus e Seu retorno.
É fácil perceber que a lista retoma elementos do credo apostólico e das confissões de fé históricas, que, por sua vez, expressam doutrinas bíblicas fundamentais.
Esses pastores e teólogos foram chamados então, de fundamentalistas, assim como também o foram todos aqueles que lutaram para preservar as doutrinas fundamentais do cristianismo, tais quais, expostas na obra “Os Fundamentos”.
Hoje, o termo fundamentalista tem conotações negativas que remetem à intransigência, intolerância, anti-intelectualismo, etc., principalmente por causa dos desdobramentos posteriores do movimento, que sofreu uma cisão no final da década de 30, e acabou tendo derivações no campo político muitos anos depois.
Aliás, vale ressaltar que apesar da clara oposição ao liberalismo teológico, os textos da obra “Os Fundamentos” tinham uma entonação muito moderada.
Infelizmente, muitos no corpo de Cristo desconhecem esse ponto histórico do cristianismo. Existiu um "bom fundamentalismo", um movimento que pretendia tão somente defender a fé cristã, voltando-se para seus fundamentos, que estavam sob massivo ataque.
De todo modo, segundo definição estabelecida no Primeiro Congresso Mundial de Fundamentalistas, realizado no ano de 1976, na Escócia, um fundamentalista é um crente no Senhor Jesus, que nasceu de novo, e que:
(i) mantém uma aliança inamovível à Bíblia, que ele a recebe como inerrante, infalível e verbalmente inspirada por Deus;
(ii) acredita que tudo que a Bíblia diz é verdade;
(iii) julga todas as coisas pela Bíblia e somente é julgado pela Bíblia;
(iv) afirma as verdades fundamentais da fé cristã histórica: a doutrina da Trindade; a encarnação, nascimento virginal, sacrifício expiatório, ressurreição física e ascensão gloriosa, segunda vinda do Senhor Jesus, o novo nascimento pela regeneração do Espírito Santo, a ressurreição dos santos para a vida eterna, a ressurreição dos ímpios para o julgamento final e a morte eterna, e a comunhão dos santos, que são o corpo de Cristo;
(v) pratica fidelidade a esta fé e procura pregá-la a cada criatura;
(vi) expõe e se separa de todas as negações eclesiásticas desta fé, do compromisso com o erro, e da apostasia da verdade;
(vi) batalha fervorosamente pela fé uma vez dada aos santos.
Você se identifica com essa definição?
Pela carga negativa que pesa sobre o termo fundamentalista, talvez seja melhor não se autoproclamar como tal, mas se alguém assim for chamado, simplesmente por defender os fundamentos da fé cristã, também não é necessário se ofender.
Este “bom fundamentalismo” nada mais é do que uma volta aos fundamentos do cristianismo, tais quais reconhecidos historicamente pela igreja de Cristo.
Juliano Marold é Defensor Público no Paraná e ilustrador. Casado com Gabriela, é pai da Sarah e do Daniel. Serve na Família dos que Creem, em Curitiba - PR.
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