Texto por: Dani F. Bravo | Fotografia: Nataliya Vaitkevich
Não vejo problema em nos expressarmos na linguagem da nossa geração utilizando as mídias sociais para levar a palavra de Deus às pessoas. No auge da pandemia, por exemplo, todos estavam em casa na frente de suas telas, e por que não espalharmos boas informações que alimentam as almas cansadas e ansiosas?
Quantas vezes eu fui extremamente edificada por um texto ou um vídeo que vi no Instagram ou no Facebook. Graças a Deus por essas ferramentas! Nelas eu também posso compartilhar com as pessoas que me seguem coisas que julgo edificantes – textos, pregações e músicas (ou até mesmo variedades da vida comum) – que de alguma forma chegam ao coração do meu público, do outro lado da telinha fazendo sentido e se transformando em algo positivo na vida deles.
Contudo, frequentemente sinto o bichinho da exigência de produtividade crescer em minha mente até virar um monstro. Um monstro que se parece muito com um chefe imaginário! Esse monstrinho não está satisfeito com frequência natural de minha produtividade. Ele diz que se não tiver o tal banner, o tal vídeo, o textão e tudo mais que está rolando por aí nosso ministérios não será relevante!
É como uma voz invisível em nossa mente que na verdade reflete um desejo real de nosso próprio coração.
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jr 17:9).
Esse monstro me condena quando estou apenas vendo um filme em família e diz "você poderia usar esse tempo pra escrever um artigo!” Ou quando estou cozinhando ou limpando a casa e diz: “vá compor uma nova música!” Ele não pára de tagarelar enchendo minha mente de novas ideias para resolver todo tipo de problemas e oferecer soluções mágicas para as necessidades das pessoas. Ah, monstrinho...
Ele tem feito muito sucesso por aí, sugerindo coisas novas em todo momento a líderes de igrejas. Onde existem “necessidades”, lá está ele tagarelando diversas ideias para resolvê-las. E estas ideias não são muito originais, ele gosta mesmo é de mostrar a você como a “igreja tal” está resolvendo esta questão e como isto está trazendo bons resultados. Isto me lembra um sábio conselho que li em um livro sobre igrejas orgânicas:
"Captar é mais eficiente e autêntico que copiar. Ao invés de reproduzir receitas de sucesso espiritual de outros, considero mais natural que você persiga aquilo que Deus determinou para a concretização de formas orgânicas de igrejas para você onde vive". ¹
Eu fico pensando que se existisse uma máquina do tempo e Paulo caísse em uma das nossas igrejas a reação dele seria de tremendo espanto! Correndo o sério risco de ser anacrônica, refiro-me ao espanto de Paulo, não no sentido cultural e na longa estrada que distancia a igreja primitiva da igreja contemporânea, mas sim na essência do caráter missional dela nesta terra.
A igreja é viva não porque ela está dividida em diversos departamentos e sim porque ela acontece nas relações. Isto é comprovado nos tempos de perseguição e tribulação. No fim das contas, o que importa realmente não é o número de pessoas que frequentam os templos para assistir aos cultos super bem produzidos, e sim o número de convertidos nascidos de novo em Cristo Jesus que se mantêm de pé diante de circunstâncias ameaçadoras mantendo sua presença fiel neste mundo.
O grande segredo dos frutos pessoais ou ministeriais não está na leitura das necessidades atuais e na estratégia de marketing traçada a partir delas. O fruto válido só é alcançado a partir do ramo que está inserido na árvore correta, como Jesus nos diz no livro de João.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira; assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15: 4-5).
O segredo da permanência portanto não é uma estratégia e sim uma pessoa! A verdadeira relevância das informações que divulgamos não se dá pela frequência ou estética das postagens (ainda que elas tenham seu valor). Se dá pela essência contida em cada post, vídeo ou foto - O Cristo revelado.
Com tudo isto, não tenho a intenção de condenar o hábito que temos de procurar boas referências, isto faz parte das relações humanas. A grande prosperidade do reinado de Salomão por exemplo, atraía líderes de todas as partes para aprender com sua sabedoria (Reis 4:34).
Essa atitude positiva é muito diferente da ideia deste chefe imaginário -- o melhor amigo do monstrinho da nossa cabeça é a comparação. Ele sopra: olha o artigo de fulano; você já viu a nova série da igreja tal? Viu essa arte que fizeram? E pouco a pouco o que era para ser uma troca de figurinhas saudável, passa ser uma corrida para a produtividade e o prêmio é o número de seguidores ou membros.
Tudo em nome da relevância.
Esse bichinho precisa aprender o seu lugar! Produtividade é ótimo, mas da forma saudável e certa que nasceu pra ser! Há uns tempos, li um livro do Davi Lago² sobre os ensinamentos do Livro de Provérbios e sua relação com a produtividade. Achei muito interessante perceber que este assunto não é negligenciado na palavra de Deus.
Uma visão correta e bíblica pode nos livrar das armadilhas mentirosas de nossa mente.
Frequentemente vejo jovens obreiros cansados e deprimidos, muitos deles por talvez não calarem as vozes da comparação ou simplesmente por não entenderem as verdades que acima já mencionei. As necessidades das pessoas acabam gerando muitos e muitos departamentos e a igreja passa a se tornar uma instituição que, no imaginário de muitos, existe para suprir todas as demandas humanas como se fosse uma empresa de gerenciamento de vidas.
A roda não pode parar de girar e taca-lhe mais banner, mais conferência, mais mentoria, mais mais mais mais mais! CHEGA!
Então Deus te coloca em casa no cantinho do pensamento, e você não consegue entender! Mais banner, mais live, mais Zoom ... mais mais mais! O monstro está gordo e muito bem alimentado tomando bastante espaço na sua mente e preenchendo seus pensamentos diários. Uma cobrança sem fim!
Até o dia em que você sente um aperto no coração e se lembra com uma gostosa saudade da reunião caseira, dos churrascos, do evangelismo cara a cara e da simplicidade dos primeiros dias, saudades das relações interpessoais e da comunhão. Quando você se dá conta do que realmente importa não é tarde demais, é só aprender a dizer não para algumas coisas e ser quem seu Pai te criou para ser.
Demita o Chefe Imaginário. Demita o monstrinho!
Notas:
¹ SIMSON, Wolfgang . Casas que transformam o mundo: igreja nos lares / Wolfgang Simson. – tradução Werner Fuchs. – Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001.
² DOUGLAS, Willian ; LAGO, Davi . Formigas: Lições da sociedade mais bem-sucedida da terra. -São Paulo: Mundo Cristão 2016.
Dani F. Bravo é pedagoga. Casada com Fabio, é líder de adoração com "Os Bravos", juntamente com o seu esposo. Serve na Comunidade do Rei em São Gonçalo, RJ,
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