Texto por: Marcos Melo Fotografia: Anete Lusina
Parar para ler uma revista, folhear suas páginas sem pressa enquanto se toma um bom café parece ser uma cena cada vez mais rara. Isso se dá por alguns motivos. Primeiro, estamos agitados demais para fazer qualquer coisa sem pressa. Segundo, estamos conectados demais para passar tempo com alguma coisa que não seja uma tela brilhante cheia de pop-ups e notificações.
Cultivar e guardar a fé na era digital é um desafio. Os dispositivos eletrônicos tentam nos distrair a todo tempo. As notificações, as notícias de última hora, os memes e os tweets ocupam a nossa mente e evitam que de alguma maneira tenhamos contato com o Salvador.
Uma partida daquele jogo online ou uma rápida olhada nas redes sociais, torna-se facilmente uma noite perdida. E as poucas horas de sono que restam, são desfrutadas com o telefone debaixo do travesseiro, ou, pelo menos, ao alcance da mão da cama, para que ao acordar, possamos verificar todas as atualizações que não foram vistas em tempo real durante o período de sono.
A rede social rouba o nosso tempo. Você já parou para pensar que estamos sendo roubados? Se para você é difícil conversar por mais de dez minutos com alguém sem que isso te deixe inquieto, roubaram a sua paciência. Se você não consegue ficar mais de 10 minutos lendo a bíblia no seu quarto, roubaram a sua atenção. Se você não se empolga mais em participar das atividades da igreja e prestar culto ao Senhor, roubaram o seu fervor espiritual.
Precisamos recuperar o que de nós foi tomado pela tecnologia. Precisamos redescobrir como podemos remir o nosso tempo. Essa é uma ordem bíblica (Ef 5.15-16), portanto é necessário que haja um esforço para administrarmos o nosso dia de maneira sábia e cuidadosa.
É certo que a solução para todos os nossos desafios é encontrada em Jesus Cristo. Ele administrou o seu tempo com perfeição e certamente não perdeu nem um segundo sequer com coisas vãs.
Ele dedicou tempo de qualidade para as coisas espirituais quando se retirava do barulho ensurdecedor da multidão e ia sozinho ao monte ter o seu momento de intimidade com o Pai (Lc 5.16).
Não há nada de errado em dedicar um tempo para distração e lazer. Pelo contrário, precisamos disso. Mas até mesmo esse tempo de descanso deve ser usado de forma responsável e não vivendo de qualquer jeito, ocupando a mente com irrealidades ou sujeiras que prejudicam a nossa vida espiritual.
As horas gastas em um perfil de fofoca poderiam ter sido investidas servindo a Deus, servindo ao seu povo, lendo sua Bíblia, orando por missões ou ajudando os necessitados. Mas você desperdiçou “grudado” no celular, consumindo informações bobas e apodrecendo sua alma. O fato mais desanimador é que esse tempo nunca mais será recuperado. É uma oportunidade perdida para sempre.
Mas a boa notícia é que podemos mudar essa realidade e utilizar os recursos da era digital com sabedoria e para a nossa edificação.
Paulo ensina aos Filipenses que “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4:8).
Parece simples. Basta excluir todos os nossos perfis ou ficar longe da internet por alguns dias e ocuparemos o pensamento com outras coisas. Mas é claro que não é assim que funciona. A mídia social não é o problema. Por trás dos vícios digitais, estão os nossos medos e desejos mais profundos. Está o nosso coração orgulhoso e corrompido pelo pecado.
Precisamos travar uma luta contra o nosso ego e a nossa fome insaciável por entretenimento. A vida instagramável é confortável demais, mas não foi para isso que fomos chamados.
Eu sei, ainda estamos aprendendo a viver nesse mundo acelerado de informações. À medida que a tecnologia avança, os cristãos terão que se firmar em sua fé e confiar verdadeiramente, acreditar, valorizar e se deliciar com as coisas que não podem ver, mas que são eternas.
Existe um caminho melhor – um caminho mais saudável, centrado e virtuoso neste mundo louco. É possível ser um cristão presente e atuante no mundo digital e ainda assim não abrir mão de uma vida cristã vibrante. É possível ser luz na escuridão do mundo digital.
Marcos Melo é pastor presbiteriano e empreendedor. Autor do livro "A Fé na Era Digital - como as redes sociais moldam o nosso coração" pela editora Heziom. É casado com Sara e fazem parte da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São Paulo, SP.
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