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Herança Eterna x Herança Terrena


Sou formada em Letras - Português e Inglês, mas nunca tive a audácia de ensinar nossa complexa língua materna a jovens em formação, por isso, por mais da metade da minha vida, ensino inglês. Foi minha primeira professora da matéria que me fez ficar apaixonada e muito interessada na família real britânica. Aquela realeza intocável para nós, sul-americanos colonizados que dificilmente entendem qual é o papel daquelas figuras reais e, muitas vezes, só se interessam pelos escândalos divulgados pelos implacáveis tabloides.


Mal pude acreditar quando os jornais diziam que o príncipe Harry, que é o sexto na linha de sucessão ao trono, se desligaria dos deveres reais. Ele e sua esposa, a atriz americana Meghan Markle, decidiram ser financeiramente independentes e construírem gradualmente um novo papel dentro da instituição.


Depois da morte de sua mãe, a princesa Diana, Harry nunca deu vestígios de que seria um monarca exemplar. Em seu livro autobiográfico lançado em janeiro de 2023, Harry, que se auto intitula “O Que Sobra", diz que na adolescência experimentou drogas e que se sentia deixado de lado por não ser o primogênito do, hoje, Rei Charles III.


Mas, foi na vida adulta e já pai de seu primeiro filho, Archie, que Harry provou que era mesmo filho de sua mãe e renunciou seu título de nobreza para, como relata em um documentário da Netflix, proteger física e mentalmente sua mulher e filho.


Em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, o casal diz que a firma (como chamam a instituição real) pouco deu importância às difamações que a imprensa fazia a Meghan e que ela negligenciou a saúde mental da Duquesa de Sussex.


Nessa mesma entrevista, o que realmente chocou a todos, inclusive ao príncipe William, foi a declaração de racismo que Archie sofreu. Eles contam que tiveram que lidar com comentários sobre a tonalidade da cor da pele de seu filho. William, ao ser questionado sobre, disse que sua família nunca foi racista.



Ao assistir ao documentário da Netflix, me comovi com as queixas de Meghan. Sabendo que sua sogra morreu em um acidente de carro causado pelos paparazzi, eu ficaria apavorada também depois de ler algo de um jornalista desejando coisas horríveis para mim. Jeremy Clarkson, o dito jornalista, alegou que apenas estava fazendo alusão a uma cena do seriado Game of Thrones ao twittar sobre seu ódio à duquesa. Mas, ela achou que deveria cobrar mais segurança para si mesma e seus filhos. Não se sabe ao certo o porquê, mas essa segurança extra lhe foi negada pelo Palácio de Buckingham. Alguns dizem que os outros membros achavam que o pedido da duquesa não fazia sentido, visto que todos igualmente na família real eram perseguidos de algum modo pela imprensa sensacionalista.


Com tudo isso em jogo coube ao Duque e à Duquesa de Sussex se mudarem da Inglaterra para os Estados Unidos e continuar a ajudar instituições beneficentes sem a ajuda financeira da firma para seu próprio sustento. Porém as finanças de Harry e Meghan com as atuais publicações, entrevistas e fotos lhes rendem um montante bastante confortável apesar de sua renúncia.



Renúncia


Harry renunciou à sua família, seu legado, seu nome, por sua esposa. O palácio exigia que Meghan Markle deveria deixar que os súditos ingleses enxergassem a discrição e a aparente vida impecável dos membros da realeza quando na verdade o que ela queria era respostas dos jornalistas que a difamaram.


O Palácio de Buckingham preza muito mais pela discrição do que pelo acerto de contas e a duquesa não estava preparada para isso.


E levando em consideração esse cenário, fica aqui nossa reflexão enquanto cristãos para todo esse dramalhão que mais nos lembra das novelas mexicanas do que as peças do dramaturgo inglês William Shakespeare.


O que Harry renunciou foi uma vida da qual ele pertencia por direito, um nome, muito dificilmente um trono, mas pelo menos um lugar muito próximo dele. E então viver sua vida em um país que não é o seu, já que ele e a família se mudaram para os Estados Unidos. Harry deixou sua pátria.


Devemos tomar muito cuidado para que esse engano de uma suposta segurança maior e mais eficaz, onde a aparência do que o mundo longe do Rei tem a nos oferecer nos faça querer renunciar o que o verdadeiro Rei dos Reis tem oferecido para nós. Através de seu filho Jesus Cristo, Deus nos garante, um lugar no seu reino. Agora, somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Romanos 8.17).


O perigo está em acharmos que na primeira dificuldade encontrada, na primeira barreira imposta, podemos renunciar o que nos foi dado sem merecimento e voltarmos para a ilusão de que longe da realeza estaremos mais seguros, mais felizes e menos perseguidos.


Harry não quis enfrentar o preço por ser herdeiro do trono. Nós cristãos somos advertidos por nosso próprio irmão Jesus Cristo de que haverá um custo ao entrarmos para sua família.


Como herdeiros agora precisamos enxergar que nosso objetivo é imitarmos a Jesus quando ele disse que não buscava a sua vontade, mas a vontade do Pai (João 5.30). Não devemos mais pertencer àquele mundo do qual o Rei nunca fez parte. Todos devemos ser unidos com nossa nova família, nossos novos irmãos em Cristo. Devemos olhar para Jesus e com amor receber a nova posição que nos foi dada.


Pois, ao contrário da herança renunciada por Harry e Meghan, a nossa é eterna e jamais pode nos ser tirada.

Nós, como família resgatada por amor, não podemos perder de vista o que o Rei tem a nos oferecer. Receberemos aquilo que a traça nem ferrugem corroem. Nosso Rei Celeste nos sustenta e sustentará. A esperança de Harry e Meghan em um dia voltarem a receber alguma atenção ou privilégio da família real britânica é quase nenhuma. Nossa esperança está firmada no Senhor da vida, no Criador, no Rei dos Reis. Glória ao nosso Rei e Senhor.


 

Érica Veríssimo possui formação em Letras (Português-Inglês) com pós graduação em Gestão Escolar. É professora de inglês,  casada com Júnior, e é mãe do Henrique. Utiliza o Instagram para falar sobre Teologia do cotidiano (casamento, vida comum e maternidade) com muito bom humor. Érica faz parte da igreja Presbiteriana do Brasil.






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