Texto: Guilherme Iamarino | Foto: Mikhail Nilo
Você já percebeu que vivemos a nossa vida em estações, certo? Épocas, períodos de matrícula, de organização da vida, invernos ou verões da nossa existência. Por vezes essas estações são otimistas, certas, serenas. Outras vezes trazem preocupações, e batidas de um ritmo frenético e instável. O barco pode afundar.
De certa forma organizamos a nossa vida em ritmos. Batidas. Estacas firmadas que dão a toada para a tomada de decisões, o movimentar na vida e a forma como esperançamos o viver. Sim, a forma como andamos a sonhar com as coisas.
Esses ritmos da vida acabam moldando o nosso viver diário, a nossa rotina. Nossos afazeres simplesmente se encaixam no “BPM” da canção que estamos vivendo. BPM significa “batidas por minuto”. Se você já foi a uma gravação de alguma canção ou então estudou música, sabe muito bem o que significam esses sons irritantes que chamamos de metrônomo.
Há canções sendo tocadas por aí que vão simplesmente entrando na nossa vida e nos fazendo viver nas batidas impostas. Ritmos sobre como devemos trabalhar, como devemos namorar, casar, ter filhos. Sobre como devemos opinar nas Redes Sociais sobre política, religião e futebol. Como devemos assistir filmes, ou se não podemos comer ovos no café da manhã. Sobre qual influencer cancelar nessa semana e qual pessoa mandar embora daquele reality que está sendo mais assistido.
Ritmos. Batidas. Tambores soando alto, como um antigo barco viking a incentivar que os guerreiros continuem remando. E nessas batidas de tempo vamos remando e remando nossos barcos, rumo a algo que muitas vezes nem sabemos o que é.
E se eu te disser que a Palavra de Deus também propõe um ritmo? Ritmos da Graça que invadem o nosso viver e nos colocam numa direção perene, esperançosa e cheia do amor de Deus? Esses ritmos, na forma das batidas do coração do Mestre, apresentam para nós o próprio Deus, o seu Evangelho, a saber, a vida e obra de Jesus Cristo. E essas batidas do coração de Deus dão o ritmo para uma nova identidade, moldando o nosso coração, consertando nossos erros, transformando o nosso pranto em dança.
Uma música que nos faz entender a graça e a verdade de Deus, que nos faz viver o seu amor leal e a sua fidelidade.
Mike Cosper, da Sojourn Church, que fica na incrível cidade de Louisville, Kentucky-EUA, é um pastor e líder de música em sua igreja que se preocupa em explicar esses Ritmos da Graça por meio de um livro magnífico de mesmo nome. Firmado no Evangelho, este artista-pastor-teólogo-músico-podcaster nos redireciona a pensar no culto cristão, no papel do serviço cristão e na beleza da Palavra de Deus para transformar a nossa vida. Nas palavras dele, a adoração verdadeira “é um ritmo de vida, formando a nossa identidade como um povo moldado pelo evangelho. É um ritmo do evangelho, lembrando-nos de nossa dependência e da suficiência de Cristo. É um ritmo da graça, incentivando-nos a viver no derramamento de amor e misericórdia doadores de vida do Deus do universo.”¹
Foto: ALEM
E qual atividade da igreja pode ser a principal demonstração dessa incrível estrutura do evangelho? O culto cristão. Sim, no culto, no tempo e no espaço, somos incentivados a reconhecer a nossa identidade, a perceber que somos acolhidos e sermos enviados na mesma missão de Deus; ser pináculos fiéis do Reino.
O culto cristão é o evento crucial para nós, que moldamos todo o nosso viver de acordo com a Palavra de Deus. Cultos teologicamente sérios, ricos na Palavra, serão firmemente apegados aos Ritmos da Graça.
O culto já era ideia de Deus quando Ele iniciou a Criação. A relação com Ele, em Seu próprio ritmo, nas batidas do Seu coração. Quando nós, aqui neste tempo, nos espaços que ocupamos e nos reunimos, contamos e recontamos a narrativa do evangelho de Jesus, adequamos o nosso ritmo ao próprio coração de Deus. Ajustamos as nossas batidas às dEle. Quando ouvimos a Palavra pregada, quando cantamos, quando oramos juntos, quando aconselhamos uns aos outros, é nesse desfrutar dos meios de graça públicos que vamos aprendendo o BPM de Deus.
Este livro é um deleite não só para aqueles que são músicos e querem se aprofundar no seu papel dentro do culto cristão. É para todos aqueles que desejam aproveitar mais a reunião dos santos. Cada porção do nosso culto dominical reflete um ritmo da graça que ensina o nosso coração a transbordar isso para a adoração compreendida em toda a vida. Enquanto essa “adoração ajuntada” acontece, somos alimentados e enviados para a “adoração espalhada”, que é o nosso próprio viver em missão do outro lado do mundo ou do outro lado da rua.
Aprender mais sobre o culto cristão é refletir já a canção que ecoa no povo de Deus desde Êxodo 15: “Não há Deus como o nosso Deus”. É enfatizar a canção do Emanuel que está em Isaías 12: “pois grande é o santo de Israel que vive em seu meio”. É perceber que somos parte de um drama bíblico, incluídos na narrativa de Deus, que nos chama a existir nEle, a sermos reconciliados por meio da obra do Filho e a desfrutar do doce consolo do Espírito.
Este livro volta nossos olhos para a nossa responsabilidade em relação ao culto cristão, que é um tema que tenho escrito recorrentemente e revisitado, pois uma adoração integral é aprendida no culto, que é a teologia viva da Igreja.
São os ritmos da graça que nos unem. Quando cantamos juntos a uma só voz, respondemos ao chamado de Deus em adoração, quando clamamos ao Pai em nome do Filho, vivemos em missão levando a luz do Evangelho que liberta das trevas o pecador. As batidas do coração do mestre que fazem eu e você sentirmos e espalharmos o grande amor de Deus.
“Nós cantamos com graça, nós cantamos por causa da graça.”²
Notas:
Cosper, M.; Ritmos da Graça, p. 19
Ibid. p.166
Guilherme Iamarino é teólogo, músico, cantor, compositor e um dos fundadores do Projeto Sola. Casado com Isabella, é pastor e serve na Igreja Presbiteriana de Alphaville (IPALPHA) em São Paulo - SP.
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